Juiz suspeita de omissão de testemunhas e pede perícia de vídeos

Magistrado Wladymir Perri desconfia que funcionárias da conveniência omitiram relatos quando prestaram depoimento à polícia

Por suspeitar que testemunhas da morte do policial Militar Thiago Ruiz, em uma conveniência do bairro Popular, em Cuiabá, estejam omitindo relatos sobre o crime, o juiz Wladymir Perri, da 12ª Vara Criminal de Cuiabá, deu 45 dias para que a Politec pericie os vídeos do interior da conveniência, onde o investigador de Polícia Civil, Mario Wilson Gonçalves, assassinou o PM. O homicídio aconteceu no dia 27 de abril deste ano, dentro da conveniência de um posto de combustíveis da capital, quando Mario tomou a arma de Thiago por acreditar que a vítima não pertencia a Polícia Militar.

Conforme decisão, Perri estaria desconfiado que as funcionárias da conveniência (testemunhas presenciais), omitiram relatos quando prestaram depoimento aos policiais que atenderam a ocorrência

“Ao que tudo indica, estão omitindo relatos do fato ocorrido, eis que, do vídeo, em todo momento, observo que ficaram [as funcionárias] atrás do balcão ouvindo as manifestações de bebedeira até o momento da ausência de inteligência cujo culminou no fato delituoso (Homicídio)”, escreveu o magistrado na decisão.

Diante da desconfiança, o juiz deu 45 dias para que a Politec realize diligências para periciar os vídeos do local do crime, com objetivo de averiguar a existência de possíveis edições totais ou parciais, bem como eventuais irregularidades nas imagens, determinando ainda a transcrição dos diálogos entre os policiais e o advogado que estava com eles na mesa no momento do crime.

Além disso, Wladymir Perri determinou a identificação dos policiais que atenderam o caso, para que sejam inquiridos como testemunhas do juízo se necessária realização de acareação.

As determinações foram proferidas na mesma decisão que recebeu a denúncia movida pelo Ministério Público de Mato Grosso (MPMT) contra o autor do crime. O órgão ministerial apresentou duas qualificadoras: utilização de recurso que dificultou a defesa da vítima, que foi atingida por vários disparos de arma de fogo, e motivo fútil.

O CASO

Segundo as investigações, na madrugada de 27 de abril, o policial Civil Mario Wilson foi até a conveniência do posto, no bairro Popular, em companhia de outro amigo. No estabelecimento, eles encontraram Thiago, que também estava com um colega, porém o PM não conhecia o investigador.

O amigo de Mario percebeu que o investigador e o cabo da PM teriam se "estranhado", destacando que o investigador estava desconfiado se Thiago era realmente policial militar.

Ambos acabaram se reunindo com os demais colegas para tomarem uma cerveja. Durante a conversa, Thiago e Mario contavam algumas histórias das suas carreiras policiais e fizeram questionamentos um para o outro.

Outra testemunha relatou que Thiago e Mario estavam conversando sobre situações de confronto em suas profissões, quando Mario afirmou que "em situação de confronto, passaria por cima de qualquer um e não consideraria amizade".

Após uma das histórias, Thiago levantou a camisa e disse "inclusive eu tenho uma cicatriz aqui", e apontou para um ferimento antigo, próximo à axila.

Ao levantar a camisa, Mário então viu a arma de Thiago na cintura. Imediatamente, o policial civil tomou a arma da vítima e disse iria “chamar a Polícia Militar para averiguar a arma".

Consta no documento que o investigador desconfiava que a arma seria ilegal. Os dois então entraram em luta corporal, momento em que Mário conseguiu se desvencilhar de Thiago, que acabou atingido pelo policial civil com aproximadamente nove disparos.