Catitu, campeão mundial de capoeira atribui conquista a toda equipe

Catitu,  campeão mundial de capoeira atribui conquista a toda equipe
Catitu,  campeão mundial de capoeira atribui conquista a toda equipe

A Capoeira na região do Araguaia foi honrada com a vitória nos Jogos Mundiais, no Rio de Janeiro (RJ), de um de seus filhos, o capoeirista Paulo Antonio Ferreira Monteiro, ou Catitu, como é apelidado na arte brasileira de luta e dança. Membro do Abadá-Capoeira do Vale do Araguaia, Catitu firma seu nome na história da modalidade esportiva na região e no país e ainda leva o grupo a outro patamar. Com o troféu nas mãos, ele atribui a conquista aos 30 anos da prática da capoeira em Barra do Garças.

“Quando eu tinha dez anos de idade, vi um capoeirista levantando esse troféu”, conta Catitu sobre o que o motivou a seguir praticando a modalidade que ainda carece de valorização no Brasil. Hoje, profissional da capoeira, se sente realizado em ter trazido a conquista para a cidade onde nasceu e onde executou os primeiros golpes e gingados.

Há 20 anos atrás ele conheceu a capoeira através do mestre Jaguar, seu primeiro orientador e precursor do Abadá-Capoeira do Vale do Araguaia. As aulas, quando criança, fizeram de Paulo o Catitu, hoje professor de capoeira em Barra do Garças, Pontal do Araguaia e Aragarças. Junto a sua esposa, a instrutora Sinhá, ele coordena o projeto Abadá, que se estende aos municípios de Araguaiana e Porto Alegre do Norte.

Para o capoeirista, o título recém-conquistado é uma vitória coletiva, resultado das três décadas de história da capoeira na região de Barra. Segundo Catitu, toda a equipe que trabalhou a modalidade no médio Araguaia tem mérito, a começar pelo mestre Jaguar, quem semeou esse sonho. “Esse resultado vem se refletir em minha pessoa. Mas, como o mestre Jaguar mesmo diz, é como se fosse uma corrida de bastões e eu fosse o último que estivesse chegado com esse bastão”, relata.

“Ele [Jaguar] já foi várias vezes no Rio de Janeiro disputar [o mundial]. Quando eu entrei, ele trazia muito conhecimento. A instrutora Sinhá também foi uma desbravadora. Por várias vezes, esteve em campeonatos treinando, disputando contra homens, trazendo alguns méritos em jogos também”, acrescenta. Os dois nomes da capoeira do Araguaia foram exemplos para Catitu, que fortaleceram a determinação do atleta em alcançar o êxito.

Com títulos de campeão estadual, por Mato Grosso e por Goiás, troféu regional e dois nacionais de capoeira, Catitu chega ao auge da carreira, mesmo com os desafios ainda inerentes à modalidade. Se a capoeira, a âmbito nacional, é pouco valorizada, em Barra do Garças a realidade também não é diferente. O atleta do interior enfrenta ainda mais barreiras e todo o esforço para alcançar as conquistas vem mesmo da iniciativa do próprio capoeirista.

Ao contrário da realidade dos atletas do futebol, do MMA e de outras modalidades mais populares, sobretudo, aqueles alocados em grandes centros, os capoeiristas enfrentam a questão financeira, como primeiro obstáculo da carreira. Catitu não contou com patrocínio para participar do mundial, assim como nos outros torneiros do vasto currículo que, só de prêmio nos jogos de Goiás, já somam sete.

“A gente investe tempo, dinheiro. Para eu ir para o mundial foi um treino intenso, musculação, aeróbica, treinamento da capoeira em si. O resultado é mais pessoal do que financeiro”. Para o atleta, a precária valorização e a consequente falta de patrocínio tornam a caminhada do capoeirista mais difícil, porém, como ele provou ao trazer o título, absolutamente possível. “A vitória fica melhor. Você se sente mais capaz”, afirma Catitu, que tira o recurso financeiro que precisa das aulas de capoeira no Colégio Luminar e pela prefeitura de Ponte Branca.

O Abadá-Capoeira, presente em 57 países, no Vale do Araguaia enfrenta os mesmos desafios. Em Barra do Garças, Pontal e Aragarças, o projeto recebe o apoio da prefeitura, que determina um espaço para a reunião e treinamento dos jovens capoeiristas. Os demais gastos, como o uniforme no valor de R$ 120, são custeados pelos próprios alunos. Embora esse não seja um grande obstáculo para os cerca de 200 jovens que praticam a capoeira pelo projeto, um apoio maior dos poderes públicos seria bem-vindo.

Catitu acredita que a modalidade nativa do Brasil precisa receber mais atenção das autoridades e ter mais visibilidade na cultura do país. “Não menosprezando outra arte ou modalidade esportiva, mas a capoeira é uma arte genuinamente brasileira. Nós costumamos dizer que ela engravidou na África e nasceu no Brasil”, justifica. Para ele, a exemplo da Coreia do Sul, que implementa o taekwondo na formação do coreano, desde jovem, a capoeira, como esporte brasileiro, também precisaria ser inserida no currículo escolar nacional.

Mas para Catitu, que aposta no incentivo da conquista mundial para os jovens capoeiristas da região, a falta de valorização da modalidade não desmotiva.

“A capoeira é uma arte que agrada muito pela particularidade de agregar muitas coisas em uma só. Tem o ritmo, a musicalidade, a parte de instrumentação, de luta, de jogo. Nós temos muitos adeptos aqui na região. E com os esforços que estamos empenhando, acho que vamos conseguir colocar a capoeira no seu devido lugar, no patamar que ela merece”.

Agora os notórios capoeiristas da região de Barra do Garças, que já possuem “bandeira cravada no cenário nacional”, se preparam para o 8º Festival de Capoeira do Araguaia, realizado nos dias 29 e 30 de setembro. Com o troféu do mundial nas mãos, eles têm mais um motivo para comemorar a festa de batizado e troca de cordas dos membros do Abadá-Capoeira do Vale do Araguaia.

“Vai estar acontecendo a entrega das primeiras graduações para os alunos que estão ingressando agora na capoeira, como também vai estar acontecendo a troca de cordas dos alunos que já praticam a bastante tempo”, descreve.

Com a presença de grandes figuras da capoeira nacional, como o mestrando Apache, do Rio de Janeiro, dentre outros capoeiristas de São Paulo, Goiânia, Cuiabá e diversas cidades do Centro-Oeste, o evento promete promover uma troca de conhecimentos.

“O jovem vai ter um intercâmbio com outros capoeiristas, vai poder sair daquele cotidiano de treino que tem nos dias normais. Vai poder assimilar vários outros estilos diferentes de capoeira”, afirma Catitu. O evento terá atividades no Porto do Baé, no Barra Shopping, no Ginásio de Esportes Arnaldo Martins e no teatro da Prefeitura de Barra do Garças.

Texto do Jornal da Notícia