Carlinhos Bezerra rastreava passos da ex-namorada há mais de 1 ano

Antes do crime, acusado fez um mapeamento da rotina de Thays Machado por meio de rastreador e aplicativo espião, implantado no celular da vítima

Carlinhos Bezerra rastreava passos da ex-namorada há mais de 1 ano

A Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) concluiu, na última sexta-feira (27), o inquérito sobre o duplo homicídio deThays Machado (44) e Willian Cesar Moreno (40), ocorrido no dia 18 de janeiro em frente ao Edifício Solar Monet, no bairro Consil, em Cuiabá. O casal foi executado com 13 tiros de pistola calibre 380 pelo ex-namorado de Thays, Carlos Alberto Gomes Bezerra (57), filho do deputado federal Carlos Bezerra (MDB), que não aceitava o fim do relacionamento.

Conforme o delegado titular da DHPP, Marcel de Oliveira, que conduziu as investigações, desde os fatos que antecederam o dia do crime até sua consumação, haviam perguntas que precisavam ser respondidas, a exemplo de como Carlinhos Bezerra sabia que Thays estava horas antes do crime no aeroporto Marechal Rondon, onde ela foi recepcionar Willian, que veio de São Paulo para vê-la.

“Em 10 dias de investigação, a gente trabalhou justamente pra mostrar que havia essa necessidade de se realizar uma busca e apreensão, porque haviam perguntas que deviam ser respondidas. Por exemplo: eu não tenho ‘bola de cristal’ pra saber que a vítima vai estar às 3 da manhã no aeroporto. E como é que esse indiciado consegue saber que a vítima estava ali? Ou seja, a gente conseguiu justamente através dos elementos apreendidos”, disse.

Ainda, segundo o delegado, na busca e apreensão feita pela DHPP na casa de Carlinhos Bezerra ficou materializada a premeditação do crime, destacando que Thays era monitorada pelo assassino em tempo integral, com o uso de aparelho rastreador GPS e escutas ambientais, implantadas por meio de aplicativo espião no aparelho celular da vítima quando eles ainda namoravam, no final de 2021. E foi através desses aparatos tecnológico que, segundo as investigações, o assassino fez todo um mapeamento da rotina da ex-namorada.

“Encontramos 71 prints de localizações onde a vítima passava. Ou seja, uma vez o programa instalado, passava os dados pro aparelho celular dele. Ele imprimia essas geolocalizações da vítima (...) com os principais locais que ela frequentava. Por exemplo: dia de domingo, igreja do São Gonçalo, porque ela era católica e frequentava aos domingos a igreja de São Gonçalo (...). Clínicas veterinárias, porque ela criava cachorros Golden. Inclusive, em diversas dessas localizações, ele fazia “links”, ligando pra vítima em determinado dia e perguntando onde ela estava. Ele pegava os prints e anotava pra ver se o que ela tinha feito era compatível com o que ela estava falando ao telefone”, destacou o delegado.

As investigações demonstraram ainda que autor do crime possuía um comportamento obsessivo, uma vez que, quatro meses antes do assassinato, em setembro de 2022, Thays Machado quase foi atropelada por Carlinhos, na saída de um Pub da capital. Além disso, os colegas de trabalho de Thays também relataram situações anteriores envolvendo Carlos Alberto, que inclusive monitorava as redes sociais da ex.

“Os amigos também relataram históricos de violência. Tanto que ele foi impedido de adentrar as dependências do fórum de Várzea Grande, justamente por questões relacionadas à violência contra funcionários e contra a própria Thays Machado. (...) A Thays teria mandado parabéns ao servidor e ele teria agradecido. E essa mensagem por si só ensejou a ida dele (Carlinhos) até o fórum e a interpelação de forma grosseira e arrogante, partindo pra cima desse servidor de ‘quem seria ele’ pra estar conversando com a Thays”, enfatizou.

Com a finalização das investigações, o delegado destaca que o caso agora será entregue à justiça, destacando ainda que o Ministério Público acatou a denúncia contra Carlinhos Bezerra pelo crime de feminicídio contra Thays Machado e homicídio triplamente qualificado contra o atual namorado dela, Willian Moreno.

“Após o oferecimento da denúncia pelo Ministério Público, segue agora pro Poder Judiciário, e o judiciário vai dizer se recebe ou não essa denúncia. Recebendo a denúncia, o Carlos Alberto Gomes Bezerra se torna efetivamente réu do processo”, concluiu.