"A Justiça matou meu filho pela segunda vez”, diz mãe de bombeiro "torturado"

Depois de quase seis anos da morte de Rodrigo Claro, a Justiça Militar entendeu que o caso prescreveu e a pena foi extinta.

Profunda tristeza e muita decepção. É assim que dona Jane Patrícia Claro afirma ter recebido a decisão da Justiça Militar de Mato Grosso que declarou extinta a punibilidade da sentença contra a tenente Izadora Ledur, do Corpo de Bombeiros. Ledur foi considerada culpada pela morte de Rodrigo Claro, um jovem de 21 anos. Ela chegou a ser condenada a um ano de prisão por maus-tratos contra a vítima, mas com a nova decisão, a Justiça entende que o crime prescreveu e não há mais a necessidade de a acusada cumprir a pena.

“Até o último momento eu acreditei que em Mato Grosso nós tivéssemos uma Justiça de verdade, pessoas capacitadas para fazer a Justiça acontecer. Mas desde o início, o que a gente viu foi uma audiência ser anulada hoje, outra amanhã, e com isso o tempo foi passando. O que dá a entender para a gente é que parece que foi tudo feito de caso pensado, sabe, para que no final o resultado fosse esse. Eu acho que desde o princípio foi como uma orquestra, foi tudo orquestrado para poder o resultado final ser esse”, disse Jane.

 

O que dá a entender para a gente é que parece que foi tudo feito de caso pensado, sabe, para que no final o resultado fosse esse.

Ela explica que nunca voltou a ser a mesma pessoa depois de perder o filho. Cada pequeno detalhe cotidiano que traz de volta as memórias de Rodrigo rememoram todo o sofrimento pelo qual a família vem passando desde que teve início a batalha judicial em busca da responsabilização e punição da tenente Izadora Ledur. Contudo, dona Jane não consegue esconder a sua revolta.

 

“A Justiça de Mato Grosso deu um tapa na cara da sociedade. Eu acho que a Justiça existe para o negro e para o pobre, para o rico não. Para a pessoa que tem condições, que é apadrinhada, ela tem um passe livre. Diante do que a gente viu, a mensagem que a Justiça de Mato Grosso deixou é que o crime compensa”, afirma.

 

Quase seis anos se passaram desde a morte de Rodrigo, mas para sua família é como se tivesse sido ontem. Jane diz que não deseja essa sensação nem para o seu pior inimigo. E tudo fica ainda pior, segundo ela, porque a família verdadeiramente depositou suas esperanças no poder judiciário.

“Infelizmente, hoje eu me sinto como se tivessem matado meu filho pela segunda vez. Primeiro a Ledur matou ele com as suas atitudes e agora a Justiça de Mato Grosso mata o meu filho pela segunda vez”, diz emocionada.

Jane e Ledur já chegaram a ficar frente a frente algumas vezes. A primeira foi no dia da morte de Rodrigo. Dona Jane conta que, assim que chegou a Cuiabá e soube o que realmente tinha acontecido com o filho, não permitiu que a tenente permanecesse junto aos familiares e amigos que se encontravam no hospital. “Fazer o que ela fez e ainda ter coragem de se fazer de vítima diante de uma sala de UTI, onde ela colocou o meu filho com as atitudes dela? Cheguei lá e não pensei duas vezes, a coloquei para fora porque eu não responderia por mim se ela continuasse ali”, relembra.

O outro encontro foi no tribunal. Dona Jane conta que durante as audiências, por diversas vezes, olhava fixamente para Ledur, “mas ela nunca teve coragem de erguer os olhos e olhar nos meus olhos”.

A família ainda não sabe qual será o próximo passo jurídico do caso. Vão conversar com o advogado e entender melhor quais as opções possíveis. Mas dona Jane conta que já não acredita na justiça. “E se você me perguntasse hoje se eu voltaria a procurar a Justiça, eu te diria: não. Não compensa. Somente a Justiça de Deus, dessa ninguém escapa”, finaliza.